Vinte e Sete Anos

Ao completar mais um ano de vida, que soma-se aos vinte e seis já completados, acho importante parar e fazer uma reflexão. É necessário abrir esse baú fechado e ver o que realmente contém de valor. É preciso uma revisão ecumênica[1] de todos os valores já armazenados. Acredito que nessa caixa haja muitas experiências vividas, sofridas, sentidas, amadas e principalmente, verdadeiras, pois são minhas verdades.

Necessário se faz então: ao lixo, as coisas ruins; à vida, meu amor. Meus conceitos, minhas verdades, por muito tempo navegaram por mares bravios. Ser inconstante, foi sempre a minha disciplina preferida, a que mais me aplicava. Mas, ser inconstante, não significa ser inseguro ou volúvel, e sim, uma vontade imensurável de aprender. Saber, aprender, conhecer, em qualquer área, sempre foi, é e sempre será, a minha maior avidez. Sou inconstante, porque sou eclético. Aceito o que me podem oferecer de bom e procuro dar o que tenho de melhor. Nessa interação com a sociedade, em contato com os que a formam, estou sempre ouvindo verdades que nem sempre são minhas e que, embora não coadune com elas, respeito muito. E respeito, não é uma virtude, é uma obrigação para com o outro. É interessante observar, que normalmente, as pessoas fogem a esta obrigação. Essa atitude, geralmente provoca conflitos, atritos, desentendimentos, uma total desarticulação entre os seres humanos.

Alguém me disse certa vez, que não falamos a mesma língua... acho difícil, independente do idioma, que isso seja verdadeiro. Como seres humanos, temos o mesmo início e o mesmo fim. Temos as mesmas necessidades e anseios. Acho que só não se fala a mesma língua, quando nos encontramos permeados pelo orgulho, pelo exacerbado amor-próprio, pela disputa, pela conveniência ou por outros sentimentos torpes, que nos tiram a razão, a lógica, a sinceridade, o equilíbrio emocional e mesmo o bom senso. Acredito que entre pessoas civilizadas, seculares, que se predisponham a conversarem, dialogarem, ou mesmo discutir, sobre qualquer assunto, sem radicalismo, sem confronto e sem emotividade profana, pode-se, com certeza, obter-se um resultado positivo de soma para todos ou um denominador comum deveras satisfatório. No entanto, quando se coloca sentimento, emoção, competição nas premissas, aí sim, a conclusão estará sempre contaminada, dando idéia de embate, onde sempre haverá um vencido e um vencedor, o que já não se pode classificar como diálogo franco e aberto, sem nenhuma tendência para escuso da conversa. O que também não significa não falarmos a mesma língua, pois se estamos usando os mesmos artifícios, estamos falando a mesma língua.

Completando hoje, vinte e sete anos, gostaria muito que as pessoas se amassem, dialogassem e se entendessem mais. No entanto, a cada dia, percebe-se que isso está ficando cada vez mais difícil. A tendência para o individualismo, para introversão, é assustadora. As pessoas se fecham em si cada vez mais, não dando uma única fresta para a abertura. É uma situação que está tornando o ser humano caótico. É necessário uma força de vontade enorme, uma personalidade e uma formação educativa muito lúcida, para não se perder e não se enveredar nesse turbilhão de descrédito e de desvalorização humana. Alguém precisa agir; todos precisam agir! É necessário despertar a consciência adormecida, torpe, antes que nos tornemos caos, apenas resquício de uma humanidade que poderia ser sábia, se amar e se respeitar.

Eu quero apenas parar para pensar... para refletir... você quer?

Seja qual for a sua resposta, não importa! Alguém tem que começar. Não adianta querer definir retidão, sem nem ao menos saber o que é uma reta. O que proponho é apenas sermos o que somos: HUMANOS! O ser intrínseco no ser. Sabendo valorizar-se e valorizar os seus semelhantes. Proponho-me AMAR... Proponho-me AJUDAR... Proponho-me RESPEITAR... Proponho-me DIALOGAR... Proponho-me ESTENDER A MÃO AO PRÓXIMO... Proponho-me OUVIR... Proponho-me, acima de tudo, SER HONESTO, VERDADEIRO, SINCERO E LEAL A TODOS OS SERES HUMANOS... Proponho, enfim, sermos o que temos dificuldades de ser: HOMENS!

[1]Ecumênico - Relativo a toda a Terra habitada; universal: 2 Rel. Diz‑se do crente que manifesta disposição à convivência e diálogo com outras confissões religiosas.